domingo, 15 de abril de 2012

Ponte dos arcos em Barra Mansa vira ‘cracolândia’




A ponte Ataulfo Pinto dos Reis - também conhecida como Ponte dos Arcos -, que liga o Centro ao bairro Ano Bom, vem sendo utilizada como espaço para usuários de drogas, principalmente de crack. A maioria é composta por jovens com até 25 anos, sem teto e que fizeram da área embaixo da ponte sua ‘cracolândia'. O movimento no local é constante e ocorre durante o dia inteiro.



Na manhã da ultima quarta-feira, a Guarda Municipal - em parceria com a Secretaria de Assistência Social e Direitos Humanos - realizou uma ação recolhendo nove usuários, inclusive um menor de 17 anos. Eles foram levados à 90ª DP para verificação de possíveis mandados de prisão e depois encaminhados à Assistência Social, onde receberam atendimento. Mas, poucas horas depois, retornaram para o local.



A operação foi motivada pela grande quantidade de denúncias efetuadas por parte da população. De acordo com o gestor de Segurança Pública, Jefferson Mamede, os usuários de drogas têm sido um problema constante para quem passa pela área e, por isso, a Guarda Municipal tem intensificado os trabalhos no local.



Não é uma operação específica. A Polícia Militar também tem agido naquele local. Temos realizado ações assim constantemente e intensificamos nos últimos dias devido à grande quantidade de reclamações. Fizemos uma parceria com a Secretaria de Assistência Social para tentar resgatar esses dependentes. São usuários de diversos tipos de droga, mas principalmente de crack - admitiu o gestor.



Para quem passa pela margem oposta ao bairro Ano Bom não é difícil observar os usuários que escondem a droga em falhas na construção. Em poucos minutos a equipe do DIÁRIO DO VALE registrou, na tarde da última quinta-feira, um usuário que retirou a droga escondida, vendeu um pouco para outro viciado e permaneceu no local fumando crack. Outros viciados se escondiam na vegetação às margens do rio.



Para inibir a aglomeração de usuários no local, Mamede informou que a prefeitura tem adotado algumas medidas - entre elas, a implantação de obstáculos físicos. Segundo ele, projetos de iluminação e urbanização das margens do Rio Paraíba do Sul na área também serão postos em prática.



Chegamos a implantar alguns obstáculos físicos, mas os usuários depredaram essas barreiras e continuam a frequentar o local. A fiscalização é algo ostensivo, mas é importante promover ações de prevenção e, por isso, outras maneiras de impedir essa aglomeração vêm sendo buscadas, como uma iluminação e urbanização maior dessas áreas e posicionamento de viaturas para evitar roubos e furtos - disse, acrescentando que aqueles que desejarem fazer denúncias podem entrar em contato através do telefone 153.



De acordo com o delegado da 90ª DP, Ronaldo Aparecido, as pessoas que foram encaminhadas à delegacia na ultima quarta-feira não possuíam mandado de prisão. Segundo ele, essa é uma questão de saúde publica.



A Polícia Civil trabalha contra o tráfico investigando e prendendo os traficantes. A questão dos usuários deve ser tratada pela prefeitura como problema de saúde pública -afirmou.




Atendimento

  

De acordo com a gerente executiva da Secretaria de Assistência Social, Cátia Batista, é preocupante o fato de a maioria dos usuários ser muito jovem. Ela informou que, dos atendidos na última semana, apenas dois aceitaram ajuda para se reabilitarem.



Nossa ação junto com a Guarda tem o foco principal na reabilitação deles. Quando os abordamos perguntamos sobre a família, de onde vieram e como chegaram ali. Buscamos conversar bastante com eles para que aceitem ajuda, mas muitos não querem sair do vício, nem que encontremos suas famílias - contou, acrescentando que a maioria é de fora do município. Os que aceitam ajuda são encaminhados para clínicas de reabilitação e órgãos responsáveis.



Problema anunciado



A onda do crack teve inicio nos anos 80, quando era consumido apenas nos grandes centros. O consumo aumentou gradativamente nos últimos anos, se espalhando por diversas áreas, incluindo as cidades menores do Brasil. Em 2011, o então comandante do 28º BPM, Antônio Jorge Gonçalves, apontou o bairro Boa Sorte como um dos locais que apresentaram aumento na venda do entorpecente, mas descartou à época que houvesse aglomerações de usuários em áreas específicas. No mesmo período, o presidente da Associação de Moradores afirmou que o bairro estava sendo atingido por uma "epidemia do crack".



Por ser muito barata, a droga acaba atingindo principalmente as camadas mais pobres da sociedade. Forma menos pura da cocaína, o crack tem um poder infinitamente maior de gerar dependência, pois a fumaça chega ao cérebro com velocidade e potência extremas. Após o prazer intenso e passageiro, segue-se a urgência da repetição. Além de se tornarem alvo de doenças pulmonares e circulatórias que podem levar à morte, os usuários se expõem à violência e a situações de perigo que também podem tirar sua vida.



De acordo com a voluntária da Casa de Recuperação Desafio Jovem Missionário Gunnar Vingren, Sonia Maria, entre os 11 internos que se encontram em reabilitação no local, a maioria chegou até lá devido ao crack.



São pessoas de Resende, Barra Mansa e Volta Redonda. A reabilitação é um processo muito difícil quando é relacionado a essa droga. A ansiedade e o nervosismo são apenas alguns dos problemas que eles têm que enfrentar, mas não é impossível; basta que a pessoa queira se livrar do vício. O crack, infelizmente, é uma droga que destrói a pessoa muito rapidamente - contou, acrescentando que a maioria dos internos são pessoas que chegaram ao uso da droga devido a problemas familiares.

  





Fonte: Diário do Vale

Nenhum comentário:

Postar um comentário