A ponte Ataulfo Pinto dos Reis - também
conhecida como Ponte dos Arcos -, que liga o Centro ao bairro Ano Bom, vem
sendo utilizada como espaço para usuários de drogas, principalmente de crack. A
maioria é composta por jovens com até 25 anos, sem teto e que fizeram da área
embaixo da ponte sua ‘cracolândia'. O movimento no local é constante e ocorre
durante o dia inteiro.
Na manhã da ultima quarta-feira, a Guarda
Municipal - em parceria com a Secretaria de Assistência Social e Direitos
Humanos - realizou uma ação recolhendo nove usuários, inclusive um menor de 17
anos. Eles foram levados à 90ª DP para verificação de possíveis mandados de
prisão e depois encaminhados à Assistência Social, onde receberam atendimento.
Mas, poucas horas depois, retornaram para o local.
A operação foi motivada pela grande
quantidade de denúncias efetuadas por parte da população. De acordo com o
gestor de Segurança Pública, Jefferson Mamede, os usuários de drogas têm sido
um problema constante para quem passa pela área e, por isso, a Guarda Municipal
tem intensificado os trabalhos no local.
Não é uma operação específica. A Polícia
Militar também tem agido naquele local. Temos realizado ações assim
constantemente e intensificamos nos últimos dias devido à grande quantidade de
reclamações. Fizemos uma parceria com a Secretaria de Assistência Social para
tentar resgatar esses dependentes. São usuários de diversos tipos de droga, mas
principalmente de crack - admitiu o gestor.
Para quem passa pela margem oposta ao bairro Ano Bom não é difícil observar os usuários que escondem a droga em falhas na construção. Em poucos minutos a equipe do DIÁRIO DO VALE registrou, na tarde da última quinta-feira, um usuário que retirou a droga escondida, vendeu um pouco para outro viciado e permaneceu no local fumando crack. Outros viciados se escondiam na vegetação às margens do rio.
Para inibir a aglomeração de usuários no
local, Mamede informou que a prefeitura tem adotado algumas medidas - entre
elas, a implantação de obstáculos físicos. Segundo ele, projetos de iluminação
e urbanização das margens do Rio Paraíba do Sul na área também serão postos em
prática.
Chegamos a implantar alguns obstáculos
físicos, mas os usuários depredaram essas barreiras e continuam a frequentar o
local. A fiscalização é algo ostensivo, mas é importante promover ações de
prevenção e, por isso, outras maneiras de impedir essa aglomeração vêm sendo
buscadas, como uma iluminação e urbanização maior dessas áreas e posicionamento
de viaturas para evitar roubos e furtos - disse, acrescentando que aqueles que
desejarem fazer denúncias podem entrar em contato através do telefone 153.
De acordo com o delegado da 90ª DP, Ronaldo
Aparecido, as pessoas que foram encaminhadas à delegacia na ultima quarta-feira
não possuíam mandado de prisão. Segundo ele, essa é uma questão de saúde
publica.
A Polícia Civil trabalha contra o tráfico
investigando e prendendo os traficantes. A questão dos usuários deve ser
tratada pela prefeitura como problema de saúde pública -afirmou.
Atendimento
De acordo com a gerente executiva da
Secretaria de Assistência Social, Cátia Batista, é preocupante o fato de a
maioria dos usuários ser muito jovem. Ela informou que, dos atendidos na última
semana, apenas dois aceitaram ajuda para se reabilitarem.
Nossa ação junto com a Guarda tem o foco
principal na reabilitação deles. Quando os abordamos perguntamos sobre a
família, de onde vieram e como chegaram ali. Buscamos conversar bastante com
eles para que aceitem ajuda, mas muitos não querem sair do vício, nem que encontremos
suas famílias - contou, acrescentando que a maioria é de fora do município. Os
que aceitam ajuda são encaminhados para clínicas de reabilitação e órgãos
responsáveis.
Problema
anunciado
A onda do crack teve inicio nos anos 80,
quando era consumido apenas nos grandes centros. O consumo aumentou
gradativamente nos últimos anos, se espalhando por diversas áreas, incluindo as
cidades menores do Brasil. Em 2011, o então comandante do 28º BPM, Antônio
Jorge Gonçalves, apontou o bairro Boa Sorte como um dos locais que apresentaram
aumento na venda do entorpecente, mas descartou à época que houvesse
aglomerações de usuários em áreas específicas. No mesmo período, o presidente
da Associação de Moradores afirmou que o bairro estava sendo atingido por uma "epidemia
do crack".
Por ser muito barata, a droga acaba atingindo
principalmente as camadas mais pobres da sociedade. Forma menos pura da
cocaína, o crack tem um poder infinitamente maior de gerar dependência, pois a
fumaça chega ao cérebro com velocidade e potência extremas. Após o prazer
intenso e passageiro, segue-se a urgência da repetição. Além de se tornarem
alvo de doenças pulmonares e circulatórias que podem levar à morte, os usuários
se expõem à violência e a situações de perigo que também podem tirar sua vida.
De acordo com a voluntária da Casa de
Recuperação Desafio Jovem Missionário Gunnar Vingren, Sonia Maria, entre os 11
internos que se encontram em reabilitação no local, a maioria chegou até lá
devido ao crack.
São pessoas de Resende, Barra Mansa e Volta
Redonda. A reabilitação é um processo muito difícil quando é relacionado a essa
droga. A ansiedade e o nervosismo são apenas alguns dos problemas que eles têm
que enfrentar, mas não é impossível; basta que a pessoa queira se livrar do
vício. O crack, infelizmente, é uma droga que destrói a pessoa muito
rapidamente - contou, acrescentando que a maioria dos internos são pessoas que
chegaram ao uso da droga devido a problemas familiares.
Fonte: Diário do Vale
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